PLATÃO: DA EDUCAÇÃO COMO DESENVOLVIMENTO DA RAZÃO

Samuel Scolnicov

Resumo


A grande inovação educacional de Sócrates foi atribuir valor moral à atividade intelectual direcionada refletidamente para a própria vida.  Seu conceito de eudaimonia era tão diferente do ordinário que falar a respeito dela, assumia, por vezes, um ar paradoxal, como em Apologia 30 b3. Para ele, a razão não é uma ferramenta para alcançar objetivos considerados dignos independentemente; ao invés disso, a própria racionalidade, expressa nas demonstrações das razões e no evitar das contradições, confere valor aos objetivos e às opiniões. As pessoas são racionais, mas obviamente não o ser humano empírico. Mas a instrução visa o homem ou a mulher empírica e emprega inevitavelmente meios psicológicos. Como, então, é possível que o resultado da instrução deva emergir das profundezas de cada um individualmente e ser, não obstante, válido para todos os indivíduos? No Simpósio, Platão dá a Aristófanes o movimento crucial. Cada um de nós é somente metade da pessoa inteira e nós somos movidos por nosso desejo pelo que nos falta. Neste contexto, reivindicar que a alma é imortal é, pelo menos, reivindicar que a alma tem uma dimensão não-empírica, que seus objetos reais não são os objetos do desejo como tal, e que a vida sensorial de uma pessoa não é a base verdadeira para a avaliação de sua eudaimonia. Entretanto, na alma que não está livre de contradições não há vantagem alguma nas opiniões certas, mas irrefletidas. Há na vida do ingênuo apenas uma insegurança que não é meramente pragmática. Mesmo que uma pessoa nunca hesite na vida, isto nada mais é que sorte moral. Ainda se é culpado em nível de logos, é suscetível de culpa e punição, não pelo que faz, mas pelo que poderia ter feito.


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