Diferenças, politicidade e educação: em defesa da tensão produtiva em educação humanística
Resumo
O grosso das teorias políticas liberais contemporâneas, mormente, para nosso caso aqui, as posições de John Rawls e de Jürgen Habermas, parte do pressuposto de que a fundamentação do campo do político e das instituições públicas democráticas que possa assumir e promover efetivamente o pluralismo necessita basear-se na e dinamizar-se pela correlação (a) de procedimentalismo imparcial, neutro, formal e impessoal como método-práxis dessa mesma fundamentação e (b) de instituições público-políticas que se constituem em estruturas-sujeitos-arenas autônomas, autorreferenciais e sobrepostas relativamente às tensões, às reivindicações e às lutas em torno do pluralismo. Com isso, a fundamentação da política e das instituições públicas abstrai da carnalidade, da politicidade e da vinculação aos sujeitos epistemológico-políticos cotidianos, assim como adquire um claro sentido técnico, apolítico e despolitizador, o que significa que, se por um lado o pluralismo é seu ponto de partida, por outro ele se constitui em um problema que exige exatamente sua supressão da fundamentação teórica e da aplicação prática. A partir dessa crítica e dessa constatação, defenderemos a ideia de pluralismo como tensão produtiva que assume as lutas e as contradições entre os sujeitos epistemológico-políticos não apenas como o ponto de partida para a fundamentação da práxis político-educacional e da constituição e da vinculação das instituições públicas, mas também como a condição sociocultural e político-institucional que leva, por um lado, a que as instituições público-políticas tenham de promover políticas educacionais e de inclusão das minorias como condição da democratização inclusiva e participativa, enfrentando as tensões do cotidiano e assumindo suas lutas, bem como, por outro, à necessidade de participação e de ativismo permanentes por parte dos movimentos sociais, das iniciativas cidadãs e das minorias político-culturais em torno à defesa e à efetivação dos direitos. Aqui, a condição fundante da teoria política e da estruturação-vinculação das instituições públicas é a politicidade, a carnalidade e a vinculação dos sujeitos epistemológico-políticos, em suas potencialidades, tensões, lutas e contrapontos.
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pdfReferências
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DOI: https://doi.org/10.26694/pensando.v11i23.7676
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