Ananse e seus umbigados

Mauricio dos Santos, Liliana Gracia Hincapié, Thiago Azevedo Pinheiro Hoshino

Resumo


Os umbigados de Ananse são os iniciados na irmandade de Aranha, o deus e deusa dos povos fanti-ashanti do golfo de Benín. Odioso para os escravizadores pelo amoroso egoísmo, humor negro, petulância e pela onipresença que o colocou nos barcos do tráfico negreiro que escravizou a tantos africanos. Odiada pelos escravistas pela astúcia com a qual teceu redes de cimarrones[1], de cabildantes[2] negros e insubmissos em Cartagena, e de bogas mensageiros que remavam nos champanes[3] pelo rio Madalena. Tornou-se quilombola rebelde Zambe, bissexual, dançarino incansável nos carnavais de Mompox, onde cada ano castra seu irmão Tigre, que também veio da África ocidental, com coelho, urubu, gato e a épica dos truques que Anansi pratica nos bosques de Gana.

Como pode caminhar por cima e por baixo da água, chegou às selvas do Pacífico, e por um fio que foi tirando de sua própria barriga, desceu pelo mangue aos esteiros. Meninos e meninas aprendem a imitá-la com a cumplicidade dos pais, que os ajudam colocando pó de aranha na ferida que deixa o umbigo ao desprender-se.


[1] NT: Cimarrones foi o termo usado pelos europeus para denominar aos escravizados fugidos, por relação com o gado selvagem que corria livre e que era difícil de domesticar. Atualmente tem sido ressignificado pelo movimento afrocolombiano para se referir à força, luta e resistência desse povo, pois os cimarrones foram quem formaram os palenques como territórios livres e autônomos.

[2] NT: Se refere às pessoas que faziam parte do Cabildo, instância de governo municipal durante a Colônia.

[3] NT: Champanes: eram tipos de embarcações utilizadas nas épocas coloniais, eram chamados assim devido ao batizo desses navios com champagne. 


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