Interpretação Musical - Uma Leitura Hermenêutica
Resumo
Este artigo busca um diálogo entre a filosofia e a música, esta tratada mais como área do conhecimento do que como fenômeno estético ou social. Procurando uma superação da classificação de Boécio, que colocava o teórico como o terceiro e mais elevado tipo de músico – acima do instrumentista e do poeta (TOMÁS, 1998) –, notamos que a hermenêutica gadameriana impõe uma reunião do aspecto prático e teórico no âmbito da interpretação (que pressupõe uma teoria e acontece através de uma técnica) que acredito oferecer fundamento para uma epistemologia da interpretação musical. O que a classificação boeciana perde de vista é que a música – como toda a proposição artística– é uma forma de pensamento. Gadamer vem aqui em nosso encontro através de seu livro Verdade e Método, um dos mais sólidos trabalhos em epistemologia do século XX, na medida em que determina a obra de arte “(...) ao lado da experiência da filosofia (...)”, como “a mais peremptória advertência à consciência científica, no sentido de reconhecer seus limites” (GADAMER, 2008, p. 33). É nesta chave que desenvolvemos um modelo preliminar de constituição interpretativa, partindo do caráter universal da hermenêutica, proposto por Gadamer a partir do fenômeno da compreensão em sua concepção mais geral, Esse modelo precisaria ser, ao mesmo tempo, sistemático (para manter sob controle os aspectos problemáticos dos pré-conceitos sem abrir mão deles enquanto estruturantes da pesquisa) e aberto (para manter a possibilidade de reconhecimento de fundamentos diversos de compreensão sem um desvio do objeto central da pesquisa). E tem, ao mesmo tempo, implicações filosóficas sobre a atuação histórico-social do músico pesquisador. Em uma abordagem assim, justifica-se não só a presença da música enquanto disciplina da Universidade, mas também o fato – incômodo para alguns, especialmente ligados à tradição da musikwissenschaft – de essa presença assumir a herança do modelo conservatorial do aprendizado de ofício, não mais como uma tradição antiga e aceita, mas como um ponto de partida para novas (e críticas) proposições artísticas. Além, é claro, de uma forma sólida de conhecimento.
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PDFReferências
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DOI: https://doi.org/10.26694/pensando.v7i13.5296
DOI (PDF): https://doi.org/10.26694/pensando.v7i13.5296.g3150
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